Visitas

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Você tem capacidade para votar?

A pergunta da foto pode parecer arrogante quanto baste mas se lhe for tirada a contundência da questão colocada poder-se-á afirmar que tem bastante relevância quando se quer fazer uma mais aprofundada análise ao panorama político português. Tem em sí a caracteristica de se dirigir a todos que a lêem , incluindo eu que escrevo estas linhas obviamente. Antes de prosseguir sei que terei necessáriamente , por uma questão de sensatez, que a colacar á minha pessoa e encontrar a resposta para a pergunta que abordo . Terei eu capacidade de votar? Ponderando sobre o ávido interesse pelos meandros da política e dado o meu acompanhamento sobre as questões mais densas e menos expostas nos círculos de discussão política e sobre os mais variados temas, considero que a resposta seja que tenho capacidade para votar e... probabilidade de ficar desiludido.
Mas a razão que me fez colocar este artigo reside no momento pós-eleitoral. Mais uma vez os portugueses foram convidados a votar (e sublinho o verbo convidar), visto que novamente a abstenção "marcou presença" no processo eleitoral , contudo, esse convite foi posto de lado e a massa votante que se absteve preferiu afastar-se do direito a contribuir no planeamento do futuro nacional. Questiono-me porque motivo não é o direito de voto um comportamento cívico obrigatório e quais os resultados provenientes da efectiva obrigatoriedade?
Ao implementar-se a obrigatoriedade do voto , o cuidado no acto de escolher um representante no Governo seria eventualmente maior. Dar-se-ia imediatamente uma nova interpretação da importãncia do acto eleitoral e consequentemente uma maior noção do sentido de responsabilidade e cidadania.
Contudo, esses factores que enumero não parecem ser de especial interesse aos sucessivos governos pós 25 Abril. De uma população que padeceu da impossibilidade de exercer o voto passou-se para uma população que mantém á distancia (muito por desencanto) a política e as responsabilidades inerentes a um cidadão num regime democrático. Acordou-se então do sonho de Abril mas estranhamente Portugal e os portugueses encontram-se sob uma estranha letargia que os demove de uma avaliação e intervençao na esfera política nacional.
Quais as causas deste distanciamento entre os habitantes e o leme do rumo de Portugal tendo o português o dom de tudo criticar e se achar capaz de saber resolver qualquer questão de acordo com o seu ponto de vista particular?
Penso que a reflexão pessoal que fará ditar o destino da cruz no boletim de voto .é numa significativa percentagem da população votante, influenciada não por um raciocínio lógico e de cálculo profundo e informado, mas sim pelo desconhecimento de matéria política num fugaz momento de escolha quase que penoso e receoso da responsabilidade . Em Portugal muitas das vezes o voto pode ser metaforizado como uma semente que se deita á terra e cujo crescimento não se acompanha. Tantas são as vezes que muitos são chamados á resposabilidade da votação encarando esse processo democrático como um aspecto pouco decisivo e esporádico, tantas vezes vota-se sem se ler sequer um programa eleitoral ou as propostas do candidato (sim, porque apenas se vota num candidato desconhecendo-se a restante equipa partidária ) ; tantas vezes se vota no candidato com a melhor equipa de marketing, no que mais seduz, no que melhor mendiga o voto, no que mais hipnotiza com palavras gritadas mas vazias de intenção ou verdade, tantas vezes se vota num candidato como forma de escolher o menos pior...
Aqui já chego ao detalhe da questão do título desta reflexão. E se alguém ler os programas e não tiver capacidade de interpretá-los? Existem centenas de milhar de portugueses que de forma preocupante e sacrificadora de gerações futuras não têm a devida informação ou aprendizagem para poder formular a sua interpretação dos desígnios nacionais e dos desafios de Portugal. Há uma ileteracia política transversal a classes, faixas etárias , áreas geográficas e associada também a outras iliteracias de âmbito não directamente político como a iliteracia económica , cívica, e académica .
Com a abstenção e o inerente desinteresse da população para com as esferas de decisão governamental , perpetua-se e agrava-se a distância do cidadão ao poder de expressão democrática ,e á construção e defesa dos interesses da população portuguesa . Estes factores são de uma preocupante gravidade. Submetendo o importantíssimo direito e dever de voto a um estatuto de opção e não de obrigatoriedade, está-se de forma interna a hipotecar a salvaguarda dos direitos mais nobres e vitais para o país e para o cidadão tais como ,a exemplo : Soberania; Indepedência ;Identidade; Liberdade; Progresso; Justiça e Sustentabilidade expondo-os á ameaça de agentes de interesse externos . Com isto pretendo dizer que o afastamento dos portugueses ao processo eleitoral manifestado na abstenção , ou a continuídade do voto de quem mal esclarecido , é uma ameaça absolutamente inaceitavel e inconcebível.
A descartabilização da responsabilidade democrática consagrada no direito ao voto resultará numa progressiva e contínua intransparência do poder estabelecido e desigualdade em dois dos direitos mais sonegados que exponho nesta minha observação que são o direito á Informação e o direito do Conhecimento.
Num modelo social democrático debilitado pela abstenção e pelo voto mal informado, a sociedade não é projectada pelo Todo. Será a classe política que o fará, e haverá o constante risco que faça de acordo com os seus interesses e não com os da população como um todo .
Nesta via o cidadão comum está diminuido na capacidade de expressão, poder de decisão e intervenção, e oportunidade á Informação e Conhecimento .



Penso haver o manifesto interesse político na continuídade da ignorância cívica e política dos cidadãos portugueses provado pela inexistência de empreendedorismo na formação abrangendo essas áreas .



a continuar

Sem comentários: